As coisas que beijei e não vivi
Creio que tudo está virando carta neste momento em que exorcizo um ponto obscuro da minha vida. A paixão inicial que se transformara em obsessão, hoje não passa de uma necessidade para me livrar de quatro frustrações, pontos que marcam uma divisão de olhar. A cada segundo que passa tenho medo de chegar aos 30 anos, devo confessar, embora faltem poucos dias para isso. Estou com medo de envelhecer, medo da passagem dos anos e das horas. Não é uma questão estética, não me importo com a lei da gravidade. Se meus seios não estarão firmes, se minha bunda cairá, ou mesmo se terei rugas e nenhum homem se interessará por mim. Nada disso me importa, nunca me considerei uma mulher bonita e atraente. A única que vez em que um homem elogiara exaustivamente meus dotes físicos, contrariou-me tanto que sentia-me como um pedaço de carne, pronta para o abate, mesmo fazendo um esforço enorme para que ele só me enxergasse assim.O medo dos 30 anos é maior que os valores sociais, estéticos ou algo do gênero. O medo dos 30 anos nasce da idéia fixa em romper com a necessidade da intensidade. Chega o momento em que a dor não tem razão, a tristeza e o pessimismo me enojam. O asco pelo descrédito é tamanho, que chego a acreditar-me incapaz de enxergar um caminho para fugir do guarda-chuva em céu de brigadeiro. Sinto asco de tudo que construi. Mulheres entram na minha vida para que eu elimine-as dela. Um basta em literaturas tristonhas...Quero uma casa de filme americano, filhos e um marido chegando com pão frequinho para tomar café.Quero, pela primeira vez, não achar essa cena enfadonha e entediante.
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